sábado, 14 de dezembro de 2013

A MORTE DE BORIS






Sofia alternava ao lado da sogra as noites de sentinela, junto ao leito do enfermo Boris.
Nesta noite em particular  contemplava o enfermo que ardia em febre e lembrava-se dos primeiros dias... Os dias em que conviveu com aquele rapaz que já conhecera com aparência de debilitado na saúde.
A lividez das faces de Boris, bem como seu físico e até mesmo sua maneira de falar, como que sempre cansado por natureza, levava qualquer um a deduzir logo tratar-se de um rapaz acometido de alguma enfermidade séria.
Caia a noite e, dia após dia, sogra e nora alternavam-se à cabeceira do jovem enfermo que transvaliava, e jovem ainda, principiava a abandonar a vida.
Sofia evitava manifestar à sogra a temeridade da perda do marido que considerava próximo ao fim. Esta por sua vez buscava não demonstrar à nora o desespero que invadia sua alma, prevendo perder o único filho.
E assim as duas mulheres arrastavam os dias e varavam as noites, numa ânsia contínua de ressuscitar ainda em vida o pobre Boris de sua enfermidade.
Até que se deu o inevitável. A consumação da agonia do rapaz que transcorreu meses em seu leito de enfermo. A mão misteriosa da morte recolheu seu último suspiro, e o entregou de volta a Deus.
Sofia e sua sogra cobriram-se de luto. E prantearam solitárias por tempo vasto aquele que para longe delas se fora, para nunca mais voltar.
E latejou no coração de ambas como um princípio de solidão, impossível de dissolver-se. Impossível de ser compartilhada.
Ajoelhadas aos pés do leito onde jazia o corpo inerte, debulhando-se em lágrimas, cada uma das duas principiaram a deslizar as contas do terço, intercedendo junto a Deus, pela alma daquele que tão cedo as deixava para trás.
Deu-se o findar do tempo necessário para que se conduzisse o corpo do jovem à sepultura.
E seguiu então o féretro pelas ruas. E cortejo solene se fez. A dor estampada nas faces da viúva e sua sogra, revestidas ambas pelo negro do luto, carregando nas mãos o rosário, emocionou a todos que em procissão fizeram questão de dar o último adeus ao jovem.
O sol não brilhava. O céu parecia conivente com a dor das duas mulheres; senão negro, cinza.

Desceu à cova o caixão, com a cruz de Cristo por sobre a tampa do ataúde.
Sofia e sua sogra voltaram as costas e, penitentes em sua dor, regressaram para casa.
Selaram a porta do quarto de Boris, como um sinete encerra um templo sagrado. E o tempo? O tempo encarregou-se de sorver do coração das duas mulheres o gotejar lento daquela dor. Daquela duplicidade de angústia e amargura que envolveu por anos o coração de ambas.


FIM







































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