terça-feira, 7 de agosto de 2012

NÉBRO QUINTA PARTE - VICTOR ADOECE



     E Victor levava seus dias em completa ociosidade. No geral dormia quase o dia todo e lá pelo entardecer; levantava-se, banhava-se e barbeava-se e se preparava para mais uma noite na taverna. E eram noites de orgia. E Victor deliciava-se em ostentar  aos demais sua jovialidade e fortuna. Nunca faltava-lhe dinheiro para pagar a cortesã que desejasse e além disso incorporara a seus hábitos o consumo do ópio e do haxixe. Bem como jamais desprezava os afrodisíacos que os mercadores traziam consigo de além mar.
     Afrodisíacos estes em geral desconhecidos em sua composição, mas sabia-se tratar de ervas do oriente. 
     Victor costumava deixar a taverna altas horas da madrugada, quando o sereno da noite tornava tudo úmido e frio. Geralmente embriagado ou sob o efeito de alguma droga, percorria o caminho até sua morada de forma lenta e titubeante, caindo algumas vezes e passando bom tempo desacordado, ao relento, deitado sobre as pedras frias dos calçamentos. Por vezes era interpelado pelo velho apagador de lampiões que sempre lhe repetia a mesma frase:
    - Não sei como um jovem tão bem apessoado e na certa rico faz caído na rua a uma hora destas.
    O tempo foi se passando e algo começou a inquietar àqueles que faziam parte do círculo de amizades de Victor. O  fato de que ele na aparência continuava o mesmo de naos atrás.
    Não possuía um cabelo branco, sua pele era jovial e até a voz inalterável. Um de seus amigos mais chegados, Manfred indagou-lhe certo dia:
    - Victor na certa não é de minha conta, mas todos aqueles de nosso meio comentam o fato realmente espantoso de que os anos se passam e tu continuas o mesmo de quando o conhecemos, em nada envelheceste, e é que já estas próximo dos cinquenta. Permaneces no entanto com o aspecto dos trinta.
     Victor sentiu-se abalado com o comentário, e em verdade não sabia o que responder. Foi então que lhe ocorreu algo que talvez satisfizesse a curiosidade de todos. 
     Disse simplesmente:
     - Esta é uma questão de família, alguma coisa talvez hereditária. Meu avô morreu lá pelos setenta e quando da sua morte não lhe davam mais que sessenta.
     A resposta não pareceu muito convincente.
     Manfred retrucou:
     - A mim meu amigo, parece-me mais que descobriste o elixir da eterna juventude e entornaste um belo de um gole. Mas deixemos isso de lado e vamos direto ao fato que me trouxe aqui. Na verdade estou preocupado com tua saúde. Já te deste conta como tosses ultimamente? Além do que já não apresentas a mesma disposicão de antigamente. Ontem mesmo, quando passei aqui a noite para te pegar e irmos à taverna, encontrei-te abatido, as faces descoradas e tu mesmo  disseste que te sentias cansado e esgotado, embora tendo dormido o dia todo. Isto não é nada bom Victor, eu, pelo menos sou um homem mais comedido que tu. Alimento-me bem e não vio a trocar o dia pela noite. Bem como é de teu conhecimento que as drogas  que fazes uso rotineiro,
podem te provocar sérios problemas ao organismo.
    Victor pensativo responde então de forma irônica:
    - Ora Manfred de que vale a vida sem os prazeres que ela possa proporcionar? Antes o túmulo que uma vida medíocre: trabalho, trabalho e trabalho.
     - Mas presta atenção Victor, se estás a adoecer e recorres a um doutor podes prolongar por muito tempo ainda essa tua vida de deleites e porque não dizer de vícios.
     - Deixemos de lado esta questão, por ora sinto-me disposto para enfrentar várias noites de prazer. Não vejo motivo para alardes.
     Disto isto, ambos saíram em direção à taverna para mais uma noitada de muito vinho, e, no caso de Victor muito ópio.
     Já passava da meia noite quando foi Manfred interpelado por um rapaz que lhe trazia um recado de Lídia, a cortesã, pedindo que este subisse até seu quarto. Manfred de pronto subiu as escadas e em poucos minutos adentrava o quarto da prostituta, que se encontrava em completo estado de desespero. Recostado a um divã encontrava-se Victor, pálido, sem uma gota de sangue no rosto. Tossia horrivelmente, como se fosse por para fora as entranhas, e escarrava uma catarro horrível, escuro. Como se estivesse a expelir pedaços dos próprios pulmões.
    Manfred de imediato passou um dos braços nos ombros do amigo e retiraram-se. 
    Victor murmurava palavras soltas como: "Estou sendo preso?... Deixa-me, posso andar com meus próprios  pés... quero dar um último beijo de boa noite em Lídia".
    Manfred Levou Victor direto para casa e chamou um médico.
    - Ele está com uma séria infecção nos pulmões que se não tratada pode se tornar numa tuberculose - foi o diagnóstico do médico, que passou alguns medicamentos apropriados e perguntou a Manfred se este se disporia a passar ali alguns dias, certificando-se de que o paciente tomaria os remédios. Ao que Manfred se prontifiou prontamente. Ficaria o tempo que fosse necessário.


 Mas Victor delirava . . .
     

Um comentário:

  1. parabens meu querido poeta favorito ! o texto e a musica memoraveis !!

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