segunda-feira, 17 de setembro de 2012
SEGUNDO DELÍRIO DE VICTOR
O SACRIFÍCIO
Victor viu-se conduzido em estado de completo topor a um templo repleto de ídolos. Um
ambiente seu desconhecido. E eram estátuas, obras em pinturas de anjos e personagens
mitológicas veneradas pelos cristãos.
E havia no templo sete altares assim dispostos: três ao lado direito, três ao lado esquerdo
e um à frente, o altar-mor.
A iluminação se consistia em tochas a ladear cada um dos altares e seis velas assim dispostas em cada altar: três de cada lado de um crucifixo. A luminosidade se consistia em uma
penumbra entre o dourado das chamas ardentes das tochas e as trevas densas. Sobressaiam em
brilho castiçais prateados.
A certa altura abriu-se um portal à direita do altar-mor. Portal que trazia a inscrição:
clausura.
Duas filas de sacerdotes adentraram o templo, trajando negro e persignando-se ao
atravessar o portal
Dois dos sacerdotes subiram ao altar e tomaram posição: um à extremidade direita, outro
à esquerda do altar. Os demais sacerdotes distribuiram-se ladeando os dois primeiros.
Deu-se início então a um canto. E eram palavras a Victor desconhecidas, mas que
provocaram-lhe profundo fascínio. Algo assim como o clamor de anjos aos pés do Deus Altíssimo.
E o canto prosseguiu: mágico, inebriante, austéro.
Veio então até Victor um dos sacerdotes, que com suas vestes negras, convoca Victor
tomar lugar atrás da mesa no altar-mor, que trazia a inscricção: SACRIFICATUR OBLATA MUNDA.
Victor o acompanha receoso porém honrado pelo súbita convocação.
Após tomar posto em lugar tão sagrado, deu-se conta ele que trajava vestes longas como
as dos sacerdotes, a sua porém alvas enquanto a destes negras.
Indicaram-lhe um assento dentre três atrás da mesa da aca, e era o local central.
Victor assentou-se, assim como dois sacerdotes a um lado seu.
Reiniciou o canto ainda mais forte e grave.
O cantor-mor então, dirigi-se ao sacerdote a esquerda de Victor e diz:
- É chegado o momento, e entrega a este um punhal dourado.
O sacerdote consente em silêncio e dirigindo-se a Victor cobre-lhe a cabeça com o capuz
que fazia parte das vestes, entregando-lhe nas mãos o instrumento afiado em forma de cruz.
Victor o segura firme em suas mãos. E sua sensação era de honra e glória. Todos os
sacerdotes cobrem então a cabeça, e, assim como Victor põe-se de pé.
Subitamente olha Victor para seu lado direito onde ficava a entrada da clausura e divisa
um jovem que trazia por veste somente uma faixa de pano branco a ocultar-lhe o sexo.
Dois dos sacerdotes conduzem o jovem pelos braços, este em estado de alheamento, e o
deitam sob a lage fria da mesa de sacrifício.
Então Victor sem que ninguém nada lhe dissesse eleva o punhal ao alto e o finca certeiro
no coração do jovem. E o sangue jorrou rubro e quente.
Um dos sacerdotes, o que se encontrava a esquerda de Victor, recolhe num cálice parte
do sangue que escorre da lage para o chão do altar. O sacerdote então leva o cálice a boca e toma
um gole. Passa o cálice ao outro sacerdote que faz a mesma coisa, oferecendo em seguida o cálice
a Victor, que sem exitar entorna o conteúdo, como se fosse de sua natureza ser ávido de sangue.
Imediatamente, no mesmo instante, faz-se ouvir uma voz que ecoa pelo templo e diz:
"Eis aí o teu resgate. O resgate pela morte de teu irmão que mataste com tuas próprias mãos. Recorda-te para todo sempre do sangue que ora entornaste e não venhas a incidir no futuro
em tão abominável ato.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
PRIMEIRO DELÍRIO DE VICTOR
E Victor em seu delírio pediu a Nébro que este o transportasse a origem de todas as coisas, pois queria contemplar os mistérios da Criação Primeira.
Nébro sem relutar disse-lhe que cobrisse os olhos com as mãos, pois seriam de visões terríficas a viagem a ser feita. Ao que Victor obedeceu prontamente, e Nébro o transportou às origens do Universo.
E lá chegando disse-lhe:
- Abre agora teus olhos e contempla àquilo que a curiosidade de teu coração te insitou.
Victor então abre os olhos e estarrecido contempla o fulgor de chamas coloridas em profusão. Estrelas que explodiam, astros em movimento sem órbita. E esse esplendor primordial, todo envolto, numa escuridão vasta e profunda.
Sua visão abarcava como que projéteis que rasgavam as densas trevas e se lançavam feito tochas fumegantes numa desordem sideral.
E contemplou assim Victor uma revolução de ordem espacial que jamais concebera. E dentre essa desarmonia de ordem astral divisou o que para ele seriam anjos a movimentarem-se. Todos convergindo a um mesmo ponto. Um ponto central.
Viu ainda seres trajando vestes alvas que se mesclavam ao colorido ofuscante das chamas.. E teve esses seres como que por anjos despidos de asas.
E o que num momento se apresentava como caos, ou ausência de ordem em movimento indefinido, de formas esféricas, rumo a colidirem umas com as outras. Essas mesmas esferas passaram a cumprir rotas definidas. Num movimento orbital e concêntrico entre si. Ora aproximando-se, ora afastando-se umas das outras.
E diferiam em tamanho e cores todas essas formações astrais.
Da mesma forma como os seres angelicais e os de vestes alvas se apresentavam ora nítidos e definidos em seu foco de visão, ora desapareciam.
Contemplou assim Victor com seus olhos o que seria as chamas em profusão da origem do Todo, dos primórdios do universo.
Assinar:
Postagens (Atom)