quinta-feira, 24 de maio de 2012

NÉBRO - Continuação: O EXÍLIO DE VICTOR

                                               O EXÍLIO DE VICTOR




     Convêm esclarecer, antes de prosseguir, que Victor após haver matado o irmão refugiou-se por vários dias no mausoléu de um cemitério antigo. Depois disso, ajudado por um amigo, embarcou em
uma nau que o levou para longe de sua terra natal. Houve claro intervenção de Nébro, que por seu
poder transformou as feições de Victor de forma a que ninguém o reconhecesse, até que em lugar
seguro aportasse.
     Latejava em Victor a dor de ter que deixar sua amada Raquel, porém já não sofria tanto como
quando Nébro apresentou-se a ele pela primeira vez, afinal ouvira da boca da própria amada que já não o amava mais, e o tinha por esquecido em seu coração.
     Era Victor Francês e migrou então para a Alemanha. Possuia certa quantia que herdara de um parente. O suficiente para que conseguisse um lugar razoável para morar e se manter por um bom tempo, sem ter que preocupar-se com dinheiro.
     Um dos problemas a enfrentar era o idioma, mas a isso também Nébro deu um jeito, ao falar era então o francês de Victor por alemão, bem como na recíproca, quando lhe falavam, lhe era o alemão por francês.
     Pode assim Victor com facilidade adaptar-se à nova terra em pouco tempo. Fez amigos e seu círculo de relações em pouco tempo cresceu.
     Foi quando então seu dinheiro começou a minguar e viu-se ele aflito, pois na verdade jamais aprendera nenhum ofício específico. Se era um homem de certa inteligência, e nada inculto, isso se devia exclusivamente a leituras e estudos que fez por prazer.
     Assustou-se também Victor com sua aparência. Olhava-se no espelho e achava-se envelhecido,
o cabelo já com alguns fios brancos.
     Há algum tempo não invocava o demônio Nébro. E pensou então consigo: "eis aí uma ótima oportunidade para que deveras ponha eu  a prova o real valor do pacto feito.  Até agora Nébro
interviu sem dúvida a meu favor, porém nada de real valor até agora obtive desse nosso contrato". 
     E decide então interpelar Nébro mais uma vez...

segunda-feira, 21 de maio de 2012


NÉBRO CONTINUAÇÃO:

Nébro providenciou já no dia seguinte uma maneira de Victor espreitar os caminhos de Raquel.
Por vários dias manteve-se ele ao longe observando a amada, sem no entanto conseguir
abordá-la.
Invocou então Nébro, pedindo a este que intervisse de modo a alcançar coragem suficiente para
isso.
Nébro então deu a Victor misteriosa poção a beber, dizendo-lhe que fora feita de sementes de
romã e sutís ervas mágicas. Poção tão poderosa quanto a ingerida por Sêmele na concepção de Baco. 




                                                           O FATRICÍDIO




     Victor então encorajado, decide abordar Raquel. Já era noite quando pôs-se a espreita numa esquina próxima à sua morada.
     A rua estava deserta. Não demorou muito e avistou ao longe o vulto de duas pessoas. Olhou atentamente e percebeu tratar-se de Raquel e outro homem.
     Passado algum tempo, a sombra dos dois cruzou sua própria sombra à luz do lampião de rua.
Victor então aproxima-se decidido a enfrentar o homem que acompanhava Raquel.


VICTOR


    Raquel !


RAQUEL


   Quem me chama?


VICTOR


   Eu, Victor ! Exclama este saido das sombras. - Acaso não te lembras mais daquele que já foi senhor de teus carinhos e afagos?


RAQUEL


   Oh! Victor, quase me matas de susto.


VICTOR


    Quem é o jovem que te acompanha?


LEONARDO


    Sou eu Victor, teu irmão. Há quanto tempo.


VICTOR


    És tu Leonardo? Ora vejam, então agora meu próprio irmão é a razão de meu tormento?
    Como pôdes trair-me assim dessa maneira? Ou não sabias que meu coração continua a arder 
 por esta dama?


LEONARDO


    Raquel não te quer mais Victor, conforma-te com isso.


VICTOR


    Ela ainda não disse isso com seus próprios lábios.


RAQUEL


    Pois o digo agora Victor. Deixa-me em paz e segue teu caminho.


VICTOR


    Indignado e irado me encontro nesse momento. Meu próprio irmão me arrebata a mulher que amo.


RAQUEL


    Eu não o amo mais Victor, e achei melhor ocultar isto de ti justamente por tratar-se de seu irmão aquele que ora é senhor de meu coração.


VICTOR


    Antes houvesse já falecido e me fosse o túmulo por refúgio.


LEONARDO


    Conforma-te Victor, mulheres outras há. E não estarás sozinho para sempre.


VICTOR


    Que belo inimigo me saíste meu irmão. Cala-te porque não preciso de teus consolos.


LEONARDO


    Foste tu sempre orgulhoso e imponente. Bem mereces o que está te acontecendo


VICTOR


     Colocando a mão na cintura onde trazia um punhal herdado de seu avô, acrescenta:
    - Não te darei tempo de repetir estas palavras. Defende-te pois é agora que te mato.
    E sem dar oportunidade alguma de que o irmão se defendesse, crava-lhe o punhal no ventre.
    Raquel solta um grito de horror. Victor permanece imóvel perante o corpo do irmão que tomba.
    Volta-lhe o sangue frio e foge apressado, ocultando-se na escuridão.