domingo, 30 de dezembro de 2012

NÉBRO EPÍLOGO




         O SOSSEGO DE VICTOR


        NÉBRO


       Ouve-me agora ó Mortal cativo meu, se alguém te disser que és como se pertencesses à outra 
época, aceita isto como supremo elogio, pois estar ausente no tempo é como conceder felicidade.
       ... E a felicidade está no esquecimento de si, talvez aí mais que em qualquer outro ato de que é
capaz o se humano. Por isso é o sono uma fortaleza revigorante, e, mais que o sono, a morte é uma
benção.


     ALTÍSSIMO

     
     Victor eis que me é cara tua alma e o teu espírito audaz e indagador me comoveu à misericórdia por ti, há tempos nenhum mortal invocava-me com tamanha fúria, com tanta enormidade de fé em si próprio despercebida.
     Que sejas tu servo de Nébro, o demônio, numa próxima vida, isto deveras não te arrebata de minhas mãos, nem estarás banido da égide de meu poder.
     Rememora agora o sacrifício pela morte de teu irmão. Bem como tudo que foi permitido viver desde que compactuaste com Nébro, e segue pois teu caminho ainda nesta vida, que numa próxima, embora não haja revogação do pacto feito, meu espírito estará contigo,


     VICTOR


     Oh! Perdoa-me por buscar o elixir,
     Elixir que me fez encantamento,
     para desencanto teu.


     NÈBRO


    Muito bem dito... vejo que não me sairás por caloteiro.


    ALTÍSSIMO


    Cala-te Nébro. Por seus lamentos e pela Ode que a Mim ergueu digo Amém.


    VICTOR AO ALTÍSSIMO


    Ao filho que nunca tive,
    deixo a lembrança de um pranto meu.
    E Tu Altíssimo me és feito a morte que desejo,
    e ora me açoita,
    com Teu olhar de fogo e hálito perfumado.
    Lego a ti as cinzas de minha existência.




                                 "Assim cumpriu Victor seu ciclo de experiência e contato íntimo
                                   com o mal. Que se não acrescentou nada a seu caráter ou sua
                                   alma, também dele nada subtraiu".






                                                             FIM


     

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

NÉBRO PRIMEIRO E ÚLTIMO INQUÉRITO



         E soaram os clarins e fez-se ouvir o som das trombetas.
         E Victor viu-se transportado em corpo ao céu dos céus, para além daquele que os olhos
contemplam no firmamento, nas alturas celestiais.

         ANJO  MINISTRO

         Victor o sangue de teu irmão ainda clama por vingança sobre a face da terra.

         Os sentidos abalados de Victor impediam-no de enxergar com nitidez a figura angelical que perante ele se apresentava. Aos poucos se desnublam seus olhos e pode ele divisar a figura de um anjo, com suas asas brancas e espada flamejante na mão direita. Mais para a esquerda pode ele ver Nébro que com o olhar fixo no infinito parecia não dar-se conta de sua presença.

        ANJO MINISTRO

        Victor declaro-te que se não fizeres por onde te redimir de teu crime serás transportado ao reino das trevas.

        VICTOR

        Todo homem em verdade está fadado à solidão, bem como nos revelado foi que somos assassinos daquele que foi eleito nosso salvador.

        NÉBRO

        O coração humano é insondável ao próprio homem, e os sentimentos tanto velam quanto revelam a divina essência humana.

        VICTOR 

        Eis que percebo irressonantes meus lamentos. Trago meu peito oprimido por uma sabedoria há muito por mim desprezada. Dor lancinante me dilacera o peito e quero lançar gritos ao infinito.
Se fores capaz de conceder-me o esquecimento de mim. Rogo-te por esta graça.

      NÉBRO

      Não temas tanto assim a vigília que te foi imposta, atenta para o mediador que há dentro de ti mesmo e não te precipitas na busca do que pode te conduzir senão a sonhos para os quais não estás preparado, senão para o despertar de uma dor ainda mais terrível. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

''UMA POSSÍVEL REVELAÇÃO






          Somos parte de um todo.
          Unidos somos a constituição máxima do que pulsa em cada ser,
          A realização Suprema de um único propósito.
          Aquilo que cada homem sonha em seu íntimo,
          Intui em seu coração,
          Está para além de qualquer conformação da matéria.
          A grandiosidade da mente atinge seu auge atinge seu auge,
          Quando ultrapassamos a barreira dos sentidos.
          Só os sentimentos elevados,
          Que entrelaçam nossas vidas umas com as outras,
          Constitui-se deveras num reflexo do que está para além do mundo material.
          Assim necessitamos de um ser Supremo de faculdades superiores às nossas:
             - Senhor de Todos os Tempos, Conhecedor de Todos os Mistérios,
               Presente em Todos os Espaços.
         Um Ser que não só nos proteja,
         Mas que, por força ilimitada, domine Todo o impossível.
         E esta consciência desconhecedora de início e fim,
         A mente Criadora e Geradora, exige de cada ser humano,
         Não só reverência, mas oportunidade de expandir-se através da própria
         Existência humana;
         Pois existir não é para Deus condição como para o homem -
         ...o homem: Consciência expressa por uma conformação da matéria -,
        É antes expressão máxima da energia que Tudo permeia,
        Percorrendo a vastidão do Universo.
        - "E o Todo Poderoso conheceu a si mesmo dando lugar aos mais terríveis
            e grandiosos paradoxos" -.
       Uma Face de Deus através da expressão excelsa e sublime da vida.
       Deus e o Homem são aspectos distintos de um mesmo Conceito:
       "A mente humana sabe de Deus e Deus conheceu-se a si próprio através
         do milagre da vida humana".

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

''VICTOR E A DEGRADAÇÃO DE UMA ALMA"


     
       O silêncio é meu segredo,
       Sob sua proteção,
       Alcanço meus sagrados propósitos,
       Envergando uma armadura a mim cedida,
       Por um anjo que em rebeldia decaiu,
       Ostento toda o imponência,
       Daquele que para si próprio edifica.
       E acaso pudesse eu subtrair-me,
       À onisciência do Altíssimo,
       Haveria de querer criar,
       Todo um universo diverso deste.
       Anulado em meu poder,
       Reverencio à uma fonte que detêm em si,
       Em clausura,
       Toda uma manifestação de existência
       Proibida . . .
       Alimento-me de fantásticas mutações,
       E híbrido de prazer e dor,
       Consigo configurar-me,
       Naquilo que realmente sou.

       
       
       

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A SOLIDÃO DE VICTOR




                                                         


                          "E VICTOR INVOCA A LEMBRANÇA DE UM AMIGO SEU'



           Emerge em mim a lembrança de ti amigo meu,
           Ah, como gostaria de rever-te mais uma vez.
           Tenho vivido todos esses anos,
           Como a acompanhar teu féretro,
           Embora descrente de tua morte,
           Que dádiva para mim seria,
           Saber eu, ainda ocupar,
           Algum espaço dentre tuas memórias...
           Queria que te recordasses,
           Daqueles dias já tão distantes,
           Em que nossa comunhão era constante,
           E então quem sabe,
           Me escrevesses uma carta,
           E meu caminho se tornasse menos árido.
           Hoje?
           Hoje tudo parece,
           Perder seus encantos,
           E prefiro um funeral a uma festa,
           Bem como a noite em trevas,
           Proporciona-me maior prazer,
           Que a luz do sol.
           Tornei-me mórbido,
           A alegria migrou para longe de mim...
           E talvez até mesmo ore ao teu Deus por mim,
           Isto é bem possível.
           E eis que tenho vivido:
           Do sexo, a luxúria,
           Do trabalho, o ócio,
           Da caridade, o orgulho,
           Do amor ao próximo, a cobiça,
           Da complacência, a ira.
           E isto por vezes me assusta...
           Nada mais.
           Sinto falta da inconsequência,
           Desproposital da infância, 
           E a mim parece que teria,
           Que conquistar de volta a inocência perdida.
           E quero do furor das tempestades,
           Do clarão dos relâmpagos....
           Minha alma se deleita,
           Com o esplendor das intempéries,
           E me sinto um proscrito,
           Tomado pelo fascínio do mal,
           Embora haja ainda algum temor,
           De possível condenação.
           Somente sei,
           Que até hoje:
           Das flores só tive os espinhos,
           E do amor que tentei elevar ao Deus cristão,
           Só me sobreveio a tentação.
           E percebo um certo grau de confusão em mim...
           Confusão de sentimentos,
           Confusão mental.
           E te tornas-te com o tempo,
           Em um verdadeiro ardil,
           E te constituis num fantasma,
           A assombrar até hoje meus dias,
           És como um estigma que carrego no peito,
           E assim sendo arrastarei meus dias,
           De forma resignada,
           Acalentando sempre a possibilidade,
           De evoluir deste sofrimento,
           Para outro menor,
           E deste para outro menor ainda,
           Até quem sabe um dia alcançar,
           A ventura de uma real alegria.
         
          
  

segunda-feira, 17 de setembro de 2012




                                        SEGUNDO DELÍRIO DE VICTOR


                                                      O  SACRIFÍCIO


             Victor viu-se conduzido em estado de completo topor a um templo repleto de ídolos. Um 
ambiente   seu   desconhecido.   E  eram   estátuas,  obras em   pinturas de anjos e  personagens 
mitológicas veneradas pelos cristãos.
             E havia no templo sete altares assim dispostos: três ao lado direito, três ao lado esquerdo
e um à frente, o altar-mor.
             A iluminação se consistia em tochas a ladear cada um dos altares e seis velas assim dispostas em cada altar: três de cada lado de um crucifixo. A luminosidade se consistia em uma
penumbra entre o dourado das chamas ardentes das tochas e as trevas densas. Sobressaiam em
brilho castiçais prateados.
            A certa altura abriu-se um portal à direita do altar-mor. Portal que trazia a inscrição: 
clausura.
            Duas filas de sacerdotes adentraram o templo, trajando negro e persignando-se ao 
atravessar o portal
            Dois dos sacerdotes subiram ao altar e tomaram posição: um à extremidade direita, outro 
à esquerda do altar. Os demais sacerdotes distribuiram-se ladeando os dois primeiros.
            Deu-se início então a um canto. E eram palavras a Victor desconhecidas, mas que 
provocaram-lhe profundo fascínio. Algo assim como o clamor de anjos aos pés do Deus Altíssimo.
            E o canto prosseguiu: mágico, inebriante, austéro.
            Veio então até Victor um dos sacerdotes, que com suas vestes negras, convoca Victor
tomar lugar atrás da mesa no altar-mor, que trazia a inscricção: SACRIFICATUR OBLATA MUNDA.
          Victor o acompanha receoso porém honrado pelo súbita convocação.
           Após tomar posto em lugar tão sagrado, deu-se conta ele que trajava vestes longas como
as dos sacerdotes, a sua porém alvas enquanto a destes negras.
           Indicaram-lhe um assento dentre três atrás da mesa da aca, e era o local central.
           Victor assentou-se, assim como dois sacerdotes  a um lado seu.
           Reiniciou o canto ainda mais forte e grave.
           O cantor-mor então, dirigi-se ao sacerdote a esquerda de Victor e diz:
           - É chegado o momento, e entrega a este um punhal dourado.
           O sacerdote consente em silêncio e dirigindo-se a Victor cobre-lhe a cabeça com o capuz 
que fazia parte das vestes, entregando-lhe nas mãos o instrumento afiado em forma de cruz.
           Victor o segura firme em suas mãos. E sua sensação era de honra e glória. Todos os
sacerdotes cobrem então a cabeça, e, assim como Victor põe-se de pé.
           Subitamente olha Victor para seu lado direito onde ficava a entrada da clausura e divisa
um jovem que trazia por veste somente uma faixa de pano branco a ocultar-lhe o sexo.
           Dois dos sacerdotes conduzem o jovem pelos braços, este em estado de alheamento, e o
deitam sob a lage fria da mesa de sacrifício.
           Então Victor sem que ninguém nada lhe dissesse eleva o punhal ao alto e o finca certeiro
no coração do jovem. E o sangue jorrou rubro e quente.
           Um dos sacerdotes, o que se encontrava a esquerda de Victor, recolhe num cálice parte
do sangue que escorre da lage para o chão do altar. O sacerdote então leva o cálice a boca e toma
um gole. Passa o cálice ao outro sacerdote que faz a mesma coisa, oferecendo em seguida o cálice
a Victor, que sem exitar entorna o conteúdo, como se fosse de sua natureza ser ávido de sangue.
          Imediatamente, no mesmo instante, faz-se ouvir uma voz que ecoa pelo templo e diz:
          "Eis aí o teu resgate. O resgate pela morte de teu irmão que mataste com tuas próprias mãos. Recorda-te para todo sempre do sangue que ora entornaste e não venhas a incidir no futuro
em tão abominável ato.



segunda-feira, 3 de setembro de 2012




             PRIMEIRO DELÍRIO DE VICTOR


      E Victor em seu delírio pediu a  Nébro que este o transportasse a origem de todas as coisas, pois queria contemplar os mistérios da Criação Primeira.
     Nébro sem relutar disse-lhe que cobrisse os olhos com as mãos, pois seriam de visões terríficas a viagem a ser feita. Ao que Victor obedeceu prontamente, e Nébro o transportou às origens do Universo.
     E lá chegando disse-lhe:
     - Abre agora teus olhos e contempla àquilo que a curiosidade de teu coração te insitou.
     Victor então abre os olhos e estarrecido contempla o fulgor de chamas coloridas em profusão. Estrelas que explodiam, astros em movimento sem órbita. E esse esplendor primordial, todo envolto, numa escuridão vasta e profunda.
     Sua visão abarcava como que projéteis que rasgavam as densas trevas e se lançavam feito tochas fumegantes numa desordem sideral.
     E contemplou assim Victor uma revolução de ordem espacial que jamais concebera. E dentre essa desarmonia de ordem astral divisou o que para ele seriam anjos a movimentarem-se. Todos convergindo a um mesmo ponto. Um ponto central.
     Viu ainda seres trajando vestes alvas que se mesclavam ao colorido ofuscante das chamas.. E teve esses seres como que por anjos despidos de asas.
     E o que num momento se apresentava como caos, ou ausência de ordem em movimento indefinido, de formas esféricas, rumo a colidirem umas com as outras. Essas mesmas esferas passaram a cumprir rotas definidas. Num movimento orbital e concêntrico entre si. Ora aproximando-se, ora afastando-se umas das outras.
     E diferiam em tamanho e cores todas essas formações astrais.
     Da mesma forma como os seres angelicais e os de vestes alvas se apresentavam ora nítidos e definidos em seu foco de visão, ora desapareciam.
     Contemplou assim Victor com seus olhos o que seria as chamas em profusão da origem do Todo, dos primórdios do universo.        


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

terça-feira, 7 de agosto de 2012

NÉBRO QUINTA PARTE - VICTOR ADOECE



     E Victor levava seus dias em completa ociosidade. No geral dormia quase o dia todo e lá pelo entardecer; levantava-se, banhava-se e barbeava-se e se preparava para mais uma noite na taverna. E eram noites de orgia. E Victor deliciava-se em ostentar  aos demais sua jovialidade e fortuna. Nunca faltava-lhe dinheiro para pagar a cortesã que desejasse e além disso incorporara a seus hábitos o consumo do ópio e do haxixe. Bem como jamais desprezava os afrodisíacos que os mercadores traziam consigo de além mar.
     Afrodisíacos estes em geral desconhecidos em sua composição, mas sabia-se tratar de ervas do oriente. 
     Victor costumava deixar a taverna altas horas da madrugada, quando o sereno da noite tornava tudo úmido e frio. Geralmente embriagado ou sob o efeito de alguma droga, percorria o caminho até sua morada de forma lenta e titubeante, caindo algumas vezes e passando bom tempo desacordado, ao relento, deitado sobre as pedras frias dos calçamentos. Por vezes era interpelado pelo velho apagador de lampiões que sempre lhe repetia a mesma frase:
    - Não sei como um jovem tão bem apessoado e na certa rico faz caído na rua a uma hora destas.
    O tempo foi se passando e algo começou a inquietar àqueles que faziam parte do círculo de amizades de Victor. O  fato de que ele na aparência continuava o mesmo de naos atrás.
    Não possuía um cabelo branco, sua pele era jovial e até a voz inalterável. Um de seus amigos mais chegados, Manfred indagou-lhe certo dia:
    - Victor na certa não é de minha conta, mas todos aqueles de nosso meio comentam o fato realmente espantoso de que os anos se passam e tu continuas o mesmo de quando o conhecemos, em nada envelheceste, e é que já estas próximo dos cinquenta. Permaneces no entanto com o aspecto dos trinta.
     Victor sentiu-se abalado com o comentário, e em verdade não sabia o que responder. Foi então que lhe ocorreu algo que talvez satisfizesse a curiosidade de todos. 
     Disse simplesmente:
     - Esta é uma questão de família, alguma coisa talvez hereditária. Meu avô morreu lá pelos setenta e quando da sua morte não lhe davam mais que sessenta.
     A resposta não pareceu muito convincente.
     Manfred retrucou:
     - A mim meu amigo, parece-me mais que descobriste o elixir da eterna juventude e entornaste um belo de um gole. Mas deixemos isso de lado e vamos direto ao fato que me trouxe aqui. Na verdade estou preocupado com tua saúde. Já te deste conta como tosses ultimamente? Além do que já não apresentas a mesma disposicão de antigamente. Ontem mesmo, quando passei aqui a noite para te pegar e irmos à taverna, encontrei-te abatido, as faces descoradas e tu mesmo  disseste que te sentias cansado e esgotado, embora tendo dormido o dia todo. Isto não é nada bom Victor, eu, pelo menos sou um homem mais comedido que tu. Alimento-me bem e não vio a trocar o dia pela noite. Bem como é de teu conhecimento que as drogas  que fazes uso rotineiro,
podem te provocar sérios problemas ao organismo.
    Victor pensativo responde então de forma irônica:
    - Ora Manfred de que vale a vida sem os prazeres que ela possa proporcionar? Antes o túmulo que uma vida medíocre: trabalho, trabalho e trabalho.
     - Mas presta atenção Victor, se estás a adoecer e recorres a um doutor podes prolongar por muito tempo ainda essa tua vida de deleites e porque não dizer de vícios.
     - Deixemos de lado esta questão, por ora sinto-me disposto para enfrentar várias noites de prazer. Não vejo motivo para alardes.
     Disto isto, ambos saíram em direção à taverna para mais uma noitada de muito vinho, e, no caso de Victor muito ópio.
     Já passava da meia noite quando foi Manfred interpelado por um rapaz que lhe trazia um recado de Lídia, a cortesã, pedindo que este subisse até seu quarto. Manfred de pronto subiu as escadas e em poucos minutos adentrava o quarto da prostituta, que se encontrava em completo estado de desespero. Recostado a um divã encontrava-se Victor, pálido, sem uma gota de sangue no rosto. Tossia horrivelmente, como se fosse por para fora as entranhas, e escarrava uma catarro horrível, escuro. Como se estivesse a expelir pedaços dos próprios pulmões.
    Manfred de imediato passou um dos braços nos ombros do amigo e retiraram-se. 
    Victor murmurava palavras soltas como: "Estou sendo preso?... Deixa-me, posso andar com meus próprios  pés... quero dar um último beijo de boa noite em Lídia".
    Manfred Levou Victor direto para casa e chamou um médico.
    - Ele está com uma séria infecção nos pulmões que se não tratada pode se tornar numa tuberculose - foi o diagnóstico do médico, que passou alguns medicamentos apropriados e perguntou a Manfred se este se disporia a passar ali alguns dias, certificando-se de que o paciente tomaria os remédios. Ao que Manfred se prontifiou prontamente. Ficaria o tempo que fosse necessário.


 Mas Victor delirava . . .
     

domingo, 5 de agosto de 2012

NÉBRO CONTINUAÇÃO

    Após o jogo de cartas Victor e Nébro separaram-se. Nébro regressou à mesa onde continuavam sentados a beber os rapazes que se viraam encantados com o que para eles fora mais que um truque de magia. Nébro encontrou-os a divagar sobre os vampiros e outras manifestações demoníacas como as bruxas e os alquimistas.
    Eximia-se Nébro em expressar opiniões categóricas, foi quando olhou de soslaio para o balcão da taverna e viu um jovem de características bem peculiares: seu cabelo, seus gestos, sua maneira extravagante de se vestir... Nébro logo deduziu tratar-se de um sodomita.
    Victor estava sentado numa mesa próxima ao local onde se encontrava o rapaz e, embora tentasse disfarçar, não tirava os olhos de Victor. Nébro então não conseguiu conter uma gargalhada. Foi até a mesa onde se encontrava Victor e discretamente afastaram-se os dois.
Nébro então  apontando o rapaz no balcão disse a Victor:
    - Vês aquele jovem de trejeitos efeminados e que traja uma verdadeira fantasia tal é o colorido de suas vestes?
    - Sim vejo. - Respondeu Victor.
    - Bem ele está a te flertar já por um bom tempo. - Acrescentou Nébro.
    Ao que Victor retrucou:
    - E o que tem  isso? Eu nunca fui dado a relacionar-me com sodomitas.
    - Ora há sempre uma primeira vez para tudo. E presta atenção no que vou te dizer, - procura aproximar-se dele e faz por onde demonstrar interesse em seus encantos. Estás lembrado da disputa com o velhaco Hoss?
    - Sim, - respondeu Víctor.
    - Pois bem, propõe ao rapaz uma orgia a ele. A três, você, ele e a cortesã Helena. Porém, como condição exija que o rapaz durante o ato de luxúria e lascívia, retire o talismã do pescoço de Helena. Garanto-te, desta forma será bem mais fácil para ti, pois ambos, ela e ele haverão de
envolver-te em carícias, tu na certa estarás mais ávido em responder as carícias de Helena, enquanto ele só estará interessado que o possuas, tendo assim  maior chance em lançar mão do talismã.
    E uma coisa é certa meu amigo, - acrescentou Nébro - possuir um homem ou uma uma mulher é algo deveras muito comum aos homens. Isso não passa de uma questão moral. E ademais, não será o fato de possuí-lo que fara de ti um pederasta. Reflete bem e verás que tenho razão.
    Refletiu então Victor nas palavras de Nébro e concluiu que este estava certo e procedeu de acordo com suas palavras. Abordou o jovem efeminado e fez a proposta. Este de pronto aceitou.
    Já no dia seguinte tinha Victor em mãos o talismã. E quinze dias depois, tendo Nèbro por testemunha da aposta, recebia das mãos do velhaco Hoss 1.000 dobrões em ouro.







sábado, 4 de agosto de 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012



NA TAVERNA - CONTINUAÇÃO - O JOGA DE CARTAS

     Nisso Victor aproxima-se de Nébro e diz a seu ouvido que quer falar-lhe a sós. Nébro então diz a Victor:


     - Eis que apresentei-me como Jonatan, então cuida em tratar-me por este nome. - Victor retruca simplesmente:


    - Não te preocupes não esquecerei, - e acrescenta afobado - preciso de teu auxílio. Estou numa disputa de jogo de cartas e já perdi muito dinheiro. Porém, a questão não é essa, mas sim a de que
sei que estou sendo trapaceado.


    - E que queres que eu faça. - Retruca Nébro.


    - Quero que com teus poderes me faça de trapaceado em trapaceador, e que, no final do jogo sejas por paraninfo numa aposta que hei de travar com aquele que ora me toma por tolo e me
arrebata o dinheiro a rodo.


    Nébro então sentencia:


    - Pois bem leva-me até a mesa de jogo e apresenta-me como amigo teu interessado em participar da disputa.


    - Vem comigo e assim farei, - acrescentou Victor.


    Retornando à mesa de jogo Victor apresenta Nébro como um antigo amigo seu que é dado a jogos de cartas e não perde a oportunidade de uma boa disputa, não recuando nunca a nenhum desafio, no que se refere a um baralho disputado à altura. Pois é homem rico e não teme nenhuma aposta.
     Os jogadores o acolhem com entusiasmo e certa medida de ironia, o que levou Nébro logo de imediato a subestimar com imperceptível sorriso de satisfação aqueles mortais vaidosos e petulantes, que, na certa, acreditavam-se capazes de trapacear o próprio diabo.
     Logo de início retira Nébro do bolso de seu colete um baralho seu e exige que seja incorporado às cartas, ou seja, que se substitua um dos baralhos pelo seu.
     Tratava-se de um jogo hoje pouco conhecido um misto do tradicional jogo italiano Calabrasella e o Escopa de Quinze. Um dos baralhos  era usado como refugo, do outro o carteador sacava cartas e distribuía aos jogadores. Os jogadores que se encontravam na mesa demostraram certo constrangimento, mas após verificarem as cartas do baralho de Nébro não opuseram objeção à exigência do elegante e rico cavalheiro. Do qual estavam certos poder extorquir altas quantias. Com a chegada de Nébro o número de jogadores era cinco. Nébro exigiu que se convidasse mais alguém para participar do jogo, pois desejava jogar em parceria com seu amigo
Victor. Não demorou muito para que um dos jogadores conseguisse mais um comparsa. Um homem de meia idade e de olhar astuto.
     Deu-se início ao jogo. Foram distribuídas as cartas conforme as regras e Nébro logo deu-se conta da maracutaia dos jogadores, que se usavam de truques para ele deveras banais, com o objetivo de trapacearem a ele e a Victor.
     Qual não foi porém a surpresa de Victor quando ouviu a alto e bom tom Nébro lhe dizer que carta deveria jogar. Olhou temeroso para os companheiros na mesa, porém não percebeu alteração nenhuma em suas feições. Então deu-se conta de que só ele ouvia a voz de Nébro. Quando não tinha a carta, balançava a cabeça, e Nébro dizia: "solicite uma carta ao carteador"
Maior não era o espanto de Victor ao perceber que a carta que lhe vinha as mãos era justamente a necessária no jogo.
     Desta forma em poucas partidas Victor conseguiu recuperar tudo o que perdeu e ainda quebro a banca. Os demais jogadores estavam em pânico, mas não sabiam o que fazer, pois não havia como acusá-los de trapaça
    Terminado o jogo, nenhum dos jogadores com excessão de Victor e Nébro, tinham condições de erguer apostas. Victor então dirigiu-se ao Sr. Hoss, o jogador que o havia trapaceado e disse:
     
     - Sr. Hoss, eis que tenho uma aposta a lhe fazer, uma disputa na verdade!


     - Estou pronto a aceitar a disputa - respondeu este.


     - Pois bem, eu o desafio a num prazo de quinze dias nos reencontrarmos aqui, nesta taverna trazendo por oferta o talismã que a cortesã Lídia carrega no seio. Aquele que perder a aposta deverá  ceder ao outro a quantia de 1.000 dobrões em ouro. E então aceita o desafio?


      - É deveras um desafio e tanto, pois ambos sabemos que ela não tira o talismã do pescoço por nada desse mundo - acrescentou o outro.


       Victor então sentenciou:


       - Pensava que eras do tipo de homem que aprecia grandes desafios, mas se queres retroceder de minha parte não me importo. Só o que consegui arrebatar no jogo de cartas de hoje em muito acresce meu capital. Estou só a lhe propor uma forma de reaver parte do que perdeu.


       - Muito bem, aceito aposta - acrescentou o Sr. Hoss.


       Na verdade o real objetivo de Victor era o de humilhar um pouco mais aquele facínora. Vingar-se mesmo por tê-lo tomado por um simples burgês idiota do qual poderia com facilidade arrebatar até o último tostão e deixá-lo na miséria.
       Nébro nada disse quanto a disputa, só sabia consigo que haveria de mais uma vez intervir para que Victor tivesse êxito em seu intento.
      





quarta-feira, 25 de julho de 2012

NÉBRO QUARTA PARTE


NA TAVERNA O JOGO DE CARTAS


     Tornara-se hábito para Victor frequentar a taverna todas as noites. Jogava cartas, embebedava-se e, sempre que possível, pernoitava ali mesmo na companhia de alguma jovem cortesã.
     Nesta noite como de costume Victor interpelou um jovem que lhe vendia ópio e haxixe, além de um pó
afrodisíaco o qual misturava ao vinho; o que tonava mais intensa suas noites de prazer com a prostituta Lídia, a de sua preferência.
    Sentara-se Victor numa mesa de jogo, onde ele e mais três jovens costumavam disputar algumas partidas de cartas. Foi então que Victor olhando para a porta para a porta da taverna reconheceu Nébro, que muito bem trajado entregava o sobretudo e o chapéu ao velho porteiro.
    Victor imediatamente levantou-se de seu lugar à mesa e dirigindo-se ao visitante inesperado, indagou irritado:

    - Que fazes aqui, acaso te invoquei eu? - interpelou este a Nébro, que por sua vez retrucou:

    - Que juízo fazes de mim mortal petulante, acaso pensas que não tenho vontade própria? Posso perfeitamente materializar-me onde bem me aprouver. É óbvio que decidi vir aqui esta noite porque sabia que te encontraria neste antro. Por outro lado é meu objetivo divertir-me também, sendo assim volta para tua mesa de jogo e deixa-me em paz. Não te comprometerei em nada, esteja sossegado e se presisares de mim não exites em me chamar.
    
     Não demorou muito para que Nébro com sua elegância e porque não dizer beleza, atraísse a atenção das raparigas da taverna. Mantinha porém, propositalmente, uma atitude de indiferença. Pediu uma bebida forte, mistura de licor de aniz com whisky. Foi então que quatro rapazes sentados à uma mesa próximo ao balcão convidaram-no a tomar assento. Os rapazes tomavam vinho e interpelaram Nébro quanto a seu nome e de onde vinha, pois nunca o aviam visto ali antes.
    Nébro disse-lhes que estava de passagem de passagem pela cidade e chama-se Jonatan, sendo natural de Londres.

    - Pouco divertimento há por aqui. A música é senão monótona, cansativa aos ouvidos. Bom seria se tivéssemos um ótimo mágico a nos alegar a nos alegrar o ambiente - acrescentou Nébro inesperadamente.
Ao que Hans um dos rapazes disse:

    - Concordo plenamente contigo, mas creio que o faturamento da casa não permita tais espetáculos.

     Nébro então acrescentou:
     
     - Bem, pelo menos por esta noite podemos nos divertir um pouco além da medida.

     Carl então, um outro rapaz indagou:

     - O que queres dizer com isso?

     - Logo verás - disse Nébro, e dirigindo-se a um velho que servia as mesas solicitou uma taça de vinho. Em seguida disse aos rapazes que esvaziassem suas taças pois queria fazer um teste com eles.

     - Eis aqui uma taça de vinho. Proponho que ela seja passada de mão em mão, e cada um tome um gole de seu conteúdo e veremos no que dá! - propôs Nébro.

     Um dos rapazes comenta então:

     - É muito estranha essa tua proposta, afinal que pode haver de especial em fazer rodar uma taça de vinho entre cinco cavalheiros numa mesa?

      Nébro sem importarsse com a observação acrescentou:

     - Bem começemos, da direita para a esquerda. Como te chamas? - interrogou o rapaz logo à sua direita.

     - Louis.

     - Pois bem Louis, diz Nébro, entorna um gole da taça e dize-nos qual o conteúdo dela.

     - Com mil diabos, é pura vodka.

     - Bem, agora tua vez -disse Nébro dirigindo-se ao próximo rapaz.

      Esse exitou, porém entornou um gole, e exclamou:

     - Por Deus é cerveja, e das boas!

     - Agora tu, o próximo - acrescentou Nébro.

     Este levando a taça à boca, prova dela e diz exaltado:

     - Isso é impossível, é puro Whisky!

    - Agora tu, o último, como te chamas:

    - Johann, disse o rapaz, e segurando a taça leva-a a boca, atirando-a longe em seguida e exclamando horrorizado:

    - É sangue..., trata-se de sangue!


    Nébro dá uma gargalhada e dirigindo-se aos rapazes declara:

    - Não se exasperem, isto nada mais é que um truque, um ato de ilusionismo deveras digno de um mago, mas não passa de um passe de mágica. E, levantando-se da mesa, afasta-se deixando os rapazes boquiabertos e perplexos.




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sexta-feira, 29 de junho de 2012

NÉBRO - TERCEIRA PARTE



              A JUVENTUDE ETERNA E A RIQUEZA




E Victor indaga de Nébro se este possui o poder de lhe conceder a juventude e fortuna esternas.


VICTOR


    NÉBRO !


NÉBRO


    Eis-me aqui.


VICTOR


   Quero indagar de ti se és senhor do poder de conceder-me a juventude eterna.




NÉBRO




   Sem dúvida posso intervir no processo de degeneração física de teu corpo, mas advirto-te desde já que o envelhecer proporciona ao homem descanso e resignação. A juventude esterna é deveras uma tentação.
   Reflete pois no que te digo agora.




VICTOR




    Espera... ocorre-me agora que de nada me valeria a juventude eterna se não fosse eu senhor de riqueza
e fortuna suficientes a satisfazer-me em todos os desejos de meu coração, e porque não dizer da carne, por
todos os dias de minha vida.




NÉBRO




   Isso posso eu arranjar-te, mas insisto para que me ouças e não venhas mais tarde a alegar que não te alertei eu, da possível desventura tua naquilo em que ora me pedes.




VICTOR




   Muito bem, diz logo o que tens a dizer...




NÉBRO




    Ouve-me pois com atenção naquilo em que te direi, mortal tardio em sabedoria e voraz nos prazeres da carne. Certo é que o jovem demora mais a fadigar-se que o velho, mas, considera: por isso mesmo é atributo do jovem o trabalho.
    É inegável também que a juventude implica nos prazeres da carne e nas paixões por vezes desenfreadas.
Quanto aos primeiros são de natureza efêmeros e implicam em ato contínuo, esquece-se num lapso de tempo um êxtase vivido. E isso vale para todos os prazeres da carne. E assim escapa fácil do homem a virtude e incorre ele no vício.
    E entenda, oh mortal néscio e carente de discernimento, por virtude, o usufruir de todos os deleites e prazeres da vida sem se tornar escravo de nenhum deles. Quanto às paixões, podem ser motivo de dor e
sofrimento incomensuráveis. Recorda-te de quando me apresentei a ti pela primeira vez? Era com a paixão
que digladiavas. E safar-te da vida com tuas próprias mãos, era ideia que te obsediava a mente.
    Vê se te abrem os olhos e percebe no que te digo, que a juventude tem, sem dúvida, seus encantos, mas é na velhice que o homem certamente encontrará, não só refrigério para sua alma, bem como descanso para sua carne extenuada pelo trabalho.
    Os sentimentos na velhice podem permanecer intensos, o amar e o odiar, são então um hábito, e a paixão de chama que fora na juventude, será agora brasa ardente que aquece, mas não consome em labaredas.
    Quanto à fortuna e riqueza, parece-me inteligente de tua parte aliá-las à condição de juventude eterna, pois eis que isso te afirmo desde já: "Cedo ou tarde morrerás. Esteja tua carne engelhada e sejam teus cabelos por cãs, ou, do contrário sejam teus ossos por vigor e tua fisionomia jovial. Na certa de qualquer forma morrerás. E, embora talvez desfrute teus dias de êxtase em êxtase, há o risco de que te iludas de que o ouro e o dinheiro tudo pode te proporcionar. E, creio eu, se não és de todo estúpido; e sei que não és, sabes que há coisas que não possuem um valor que o dinheiro possa comprar.
   E advirto-te mais uma vez: "Cuida para que as paixões não se apossem de ti, pois caso isto se dê incorres no risco de regressardes à condição na qual te encontrei.




VICTOR




   Era só o que me faltava, eis que o demônio com o qual compactuei sai-me agora por um beato de longas e enfadonhas palavras. Desprezo teu zelo por mim. E não creio que seja para ti de real importância que trilhe eu os caminhos da virtude. Quero crer antes que te delicias com minha bestialidade. Por isso, deixa de lado toda essa eloquência, que só fica bem naqueles que em sinceridade de coração se ocupam da caridade. Vieste a mim como dádiva das trevas que o seja, mas és fomento à minha fé. Fé no espírito, fé no além túmulo.
   Restringi-te portanto às cláusulas do contrato nosso. Tu me serves e eu, de minha parte, um dia te servirei.




NÉBRO




   Aí está um mortal deveras de valor! Firme naquilo em que lhe é por anseio, e quase que milagrosamente desavergonhado de admitir que, a carne pode até mesmo matar o espírito. Conceder-te-ei o que me pedes.




VICTOR




   Então vamos, apressa-te, pois meu coração já bate mais rápido só em imaginar-me senhor das dádivas que estou prestes a alcançar. Instrui-me quanto ao que devo fazer.




NÉBRO






   Quanto à juventude eterna procederás da seguinte maneira para alcançá-la: "Toma destes grãos de romã que ora te dou e dissolve-os em uma taça de vinho, com três gotas de absinto. Em seguida vai para diante de um espelho e, entornando a taça pronunciarás as seguintes palavras, JEVROM ETRON JEVROM.

    No que concerne à fortuna, a que não venha te faltar riqueza, agirás da seguinte forma: adquirirás um pequeno baú de madeira onde depositarás alguns dobrões e notas. Então, sempre que te houver por bem sacar determinada quantia, baterás três vezes com o nó dos dedos na tampa do baú, e pronunciarás: ASMODEU, ASMODEU, ASMODEU. A cada dobrão ou nota que dele sacardes, o triplo te será reposto.




   


   


   
    

quinta-feira, 24 de maio de 2012

NÉBRO - Continuação: O EXÍLIO DE VICTOR

                                               O EXÍLIO DE VICTOR




     Convêm esclarecer, antes de prosseguir, que Victor após haver matado o irmão refugiou-se por vários dias no mausoléu de um cemitério antigo. Depois disso, ajudado por um amigo, embarcou em
uma nau que o levou para longe de sua terra natal. Houve claro intervenção de Nébro, que por seu
poder transformou as feições de Victor de forma a que ninguém o reconhecesse, até que em lugar
seguro aportasse.
     Latejava em Victor a dor de ter que deixar sua amada Raquel, porém já não sofria tanto como
quando Nébro apresentou-se a ele pela primeira vez, afinal ouvira da boca da própria amada que já não o amava mais, e o tinha por esquecido em seu coração.
     Era Victor Francês e migrou então para a Alemanha. Possuia certa quantia que herdara de um parente. O suficiente para que conseguisse um lugar razoável para morar e se manter por um bom tempo, sem ter que preocupar-se com dinheiro.
     Um dos problemas a enfrentar era o idioma, mas a isso também Nébro deu um jeito, ao falar era então o francês de Victor por alemão, bem como na recíproca, quando lhe falavam, lhe era o alemão por francês.
     Pode assim Victor com facilidade adaptar-se à nova terra em pouco tempo. Fez amigos e seu círculo de relações em pouco tempo cresceu.
     Foi quando então seu dinheiro começou a minguar e viu-se ele aflito, pois na verdade jamais aprendera nenhum ofício específico. Se era um homem de certa inteligência, e nada inculto, isso se devia exclusivamente a leituras e estudos que fez por prazer.
     Assustou-se também Victor com sua aparência. Olhava-se no espelho e achava-se envelhecido,
o cabelo já com alguns fios brancos.
     Há algum tempo não invocava o demônio Nébro. E pensou então consigo: "eis aí uma ótima oportunidade para que deveras ponha eu  a prova o real valor do pacto feito.  Até agora Nébro
interviu sem dúvida a meu favor, porém nada de real valor até agora obtive desse nosso contrato". 
     E decide então interpelar Nébro mais uma vez...

segunda-feira, 21 de maio de 2012


NÉBRO CONTINUAÇÃO:

Nébro providenciou já no dia seguinte uma maneira de Victor espreitar os caminhos de Raquel.
Por vários dias manteve-se ele ao longe observando a amada, sem no entanto conseguir
abordá-la.
Invocou então Nébro, pedindo a este que intervisse de modo a alcançar coragem suficiente para
isso.
Nébro então deu a Victor misteriosa poção a beber, dizendo-lhe que fora feita de sementes de
romã e sutís ervas mágicas. Poção tão poderosa quanto a ingerida por Sêmele na concepção de Baco. 




                                                           O FATRICÍDIO




     Victor então encorajado, decide abordar Raquel. Já era noite quando pôs-se a espreita numa esquina próxima à sua morada.
     A rua estava deserta. Não demorou muito e avistou ao longe o vulto de duas pessoas. Olhou atentamente e percebeu tratar-se de Raquel e outro homem.
     Passado algum tempo, a sombra dos dois cruzou sua própria sombra à luz do lampião de rua.
Victor então aproxima-se decidido a enfrentar o homem que acompanhava Raquel.


VICTOR


    Raquel !


RAQUEL


   Quem me chama?


VICTOR


   Eu, Victor ! Exclama este saido das sombras. - Acaso não te lembras mais daquele que já foi senhor de teus carinhos e afagos?


RAQUEL


   Oh! Victor, quase me matas de susto.


VICTOR


    Quem é o jovem que te acompanha?


LEONARDO


    Sou eu Victor, teu irmão. Há quanto tempo.


VICTOR


    És tu Leonardo? Ora vejam, então agora meu próprio irmão é a razão de meu tormento?
    Como pôdes trair-me assim dessa maneira? Ou não sabias que meu coração continua a arder 
 por esta dama?


LEONARDO


    Raquel não te quer mais Victor, conforma-te com isso.


VICTOR


    Ela ainda não disse isso com seus próprios lábios.


RAQUEL


    Pois o digo agora Victor. Deixa-me em paz e segue teu caminho.


VICTOR


    Indignado e irado me encontro nesse momento. Meu próprio irmão me arrebata a mulher que amo.


RAQUEL


    Eu não o amo mais Victor, e achei melhor ocultar isto de ti justamente por tratar-se de seu irmão aquele que ora é senhor de meu coração.


VICTOR


    Antes houvesse já falecido e me fosse o túmulo por refúgio.


LEONARDO


    Conforma-te Victor, mulheres outras há. E não estarás sozinho para sempre.


VICTOR


    Que belo inimigo me saíste meu irmão. Cala-te porque não preciso de teus consolos.


LEONARDO


    Foste tu sempre orgulhoso e imponente. Bem mereces o que está te acontecendo


VICTOR


     Colocando a mão na cintura onde trazia um punhal herdado de seu avô, acrescenta:
    - Não te darei tempo de repetir estas palavras. Defende-te pois é agora que te mato.
    E sem dar oportunidade alguma de que o irmão se defendesse, crava-lhe o punhal no ventre.
    Raquel solta um grito de horror. Victor permanece imóvel perante o corpo do irmão que tomba.
    Volta-lhe o sangue frio e foge apressado, ocultando-se na escuridão.